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Prateado potro de dois anos!

O Garanhão pai de Prateado e outros. 
Fuscão irmão do garanhão e reprodutor!
                                        
Curisco animal ta na primeira munda
também é filho do garanhão
                                         



                                                       MARCHADOR, DESVIO DE RUMO E RESGATE DA TRADIÇÃO 


   



  Sergio Lima Beck
            Quem acompanha a raça Mangalarga Marchador sabe que ela vive hoje, maio de 2005, tempos bastante turbulentos e conturbados. Muitas são as polêmicas, desde fraudes genealógicas, critérios de seleção, representação contra a ABCCMM, ações na Justiça, etc. Como o livro que escrevi, com a colaboração do amigo veterinário Rodrigo Sarkis Costa, intitulado “MANGALARGA MARCHADOR Caracterização História Seleção” tem sido freqüentemente citado por alguns debatedores, e também por ter eu sido incitado por amigos  a dar a minha opinião sobre o momento atual,  valho-me do importante espaço democrático deste prestimoso jornal virtual a fim de trazer um pouco mais de lenha e luz para essa “fogueira”. Não vou me ater ao problema das fraudes, até porque creio que este é, em parte, conseqüência dos equívocos de seleção emanados de algumas diretorias, conselhos deliberativos técnicos e escola de árbitros da ABCCMM.
        Quando escrevi meu primeiro livro “EQÜINOS Raças Manejo Equitação”, referindo-me à grande expansão e enorme dispersão nacional do M. Marchador, disse que os criadores desta raça sabiam o que queiram e sabiam o que faziam. Hoje infelizmente não me arriscaria a dizer o mesmo.
        A grande marca, o grande pedestal, sobre o qual está ou estava assentada a essência e a identidade do M. Marchador é o andamento em média velocidade sempre com momentos de tríplice apoio. Diga-se de passagem, quatro tríplices por passada como é o caso da marcha completa. O tríplice apoio sempre constou como exigência na redação dos padrões fenotípicos oficiais do Marchador, deste o primeiro até o atual. Este foi o diferencial e a razão principal, embora outras possam ser alegadas, para o surgimento em Minas Gerais da ACCMRM em 1949 com âmbito estadual. Depois em 1967 ABCCMRM com âmbito nacional. Por último, em 1984, ABCCMM não mais como associação do ramo marchador (de tríplice apoio) do Mangalarga e sim, a partir daí, como raça com denominação própria.  Tudo isso porque em São Paulo os criadores do Mangalarga se organizaram primeiro em associação oficial e desde o começo estabeleceram como meta principal para o deslocamento de seus cavalos em media velocidade o andamento a dois tempos, suave, com avanços por bípedes diagonais (marcha trotada). Contemplando os criadores do ramo Mangalarga com tríplice apoio, a ABCCRM admitia legalmente o diagonal dissociado (marcha batida), desde que o animal fosse de muito boa conformação. Admitia, mas não valorizava a dissociação, porque este não era o tipo de andamento desejável. Muito tempo depois a pioneira associação do Mangalarga acabou por excluir do seu regulamento a possibilidade de admissão do diagonal nitidamente dissociado, portanto a quatro tempos bem marcados. Não havia razão para admiti-lo já que não era o desejado e já que havia sido criada em MG uma associação específica para os Mangalarga com dissociação nítida e a quatro tempos definidos. Quem discordar desta interpretação principal, que leia os padrões fenotípicos oficiais de cada uma dessas associações, do primeiro ao último e verá que é isso mesmo.
        Pois bem e por que o Marchador esta tentando trilhar hoje os caminhos que o Mangalarga já havia adotado pioneiramente muito tempo atrás?  Por que será que estão se distanciando da origem que motivou o surgimento da ABCCMM? E o pior é que a associação do Marchador vem, de uns tempos para cá, selecionando o andamento diagonal a dois tempos de uma maneira bem menos sábia do que a associação do Mangalarga. Falo isto por uma razão muito simples: o mangalarguista sempre selecionou marcha trotada e galope ao mesmo tempo. Sempre deu importância igual para estes dois andamentos, tanto em casa como nos julgamentos. Por sua vez a maioria dos atuais árbitros marchadoristas vem há uns 10 anos buscando um andamento em média velocidade muito parecido, para não dizer o mesmo, do Mangalarga. Mas só agora começaram a lembrar do galope, assim mesmo exigem apenas um arremedo muito pobre. Na prática não selecionam o cavalo de marcha com dissociação nítida e também não selecionam devidamente o galope. Neste aspecto podemos dizer que praticam uma seleção que não atende uma coisa nem outra. Mas a resposta à pergunta inicial deste parágrafo está no cerne da polêmica atual do “cavalo sem fronteiras”. Vamos tentar respondê-la.
         Por volta do início da década de 90 a associação do Marchador procurou, numa medida salutar, melhor qualificar seus árbitros de julgamento. Criou-se a ENA e depois a EMA. O erro parece ter sido na maneira como foi feita essa qualificação. Até hoje muitos dos seus próprios instrutores não sabem definir e interpretar devidamente a marcha que o padrão do Marchador sempre falou. Veja-se, por exemplo, a recente polêmica gerada pelo artigo do árbitro e instrutor Roberto Coelho Naves versando sobre marchas, quando disse que tanto a marcha batida como a picada tem predominância de diagonalização. Suponhamos então um animal com 48 % de diagonalização e 52 % de lateralização, que andamento ele possui? Se não é batida nem picada, já que estas, na ótica dele, têm predominância diagonal, só poderia então ser andadura. Mas alguém já viu andadura com 48% de diagonalização? Alguma coisa esta errada e bem errada na EMA. Esta visão unilateral, só para a direita, isto é, só para o diagonal é que parece não estar certa. Chegam ao ponto de dizer que, numa escala de 0 a 10 a marcha de centro ficaria em torno do 7. Que matemática é essa onde o centro entre 0 e o 10 não é o 5? Claro que andamento não é matemática, mas foram alguns técnicos oriundos da EMA que inventaram essa escala e esse centro que não fica no centro. A EMA, por sua vez, já começou errada no próprio nome. EMA significa Escola de Marcha e Adestramento. Primeiro deveriam saber que Adestramento, quando escrito com inicial maiúscula, significa uma das modalidades esportivas do Hipismo Clássico. E não é isso que a EMA se propõe ensinar. Segundo porque o nome Escola de Marcha pode dar a entender que vão ensinar o Marchador a marchar. Seria como ensinar o padre a rezar missa. E se for para ensinar aos alunos o que é marcha, então também não condiz. Ensinar marcha deveria ser atribuição da ENA e não da EMA. Portanto, como se vê, já não começou bem. Depois escolheram para treinar seus postulantes a instrutores justamente a Escola Nacional de Equitação do Exército. Até aí nada de errado, se os instruídos do Marchador tivessem tido o bom senso de filtrar os conceitos que aprenderam com a Equitação Acadêmica do cavalo de trote. O Exército nunca gostou do cavalo de marcha, tanto que até hoje não o utiliza em nenhum dos seus regimentos. Tive a oportunidade de assistir um desses instrutores da EMA querendo que o aluno movimentasse a cintura como se faz no cavalo de trote a dois tempos. Só que o aluno estava montado num cavalo de marcha a 4 tempos e daí a dificuldade sem solução. Parece estranho, não é? Mas não é menos estranho do que dizer que marcha picada também é predominantemente diagonalizada. Sem a valorização das raízes e da essência do Marchador, o grupo fechado e dominante dessa nova safra de árbitros foi se escorar na marcha trotada, travestida de moderna marcha batida. Quando num julgamento dizem que o animal classificado na frente do outro teve como vantagem, entre outras coisas, apresentar um pouco mais de dissociação na movimentação dos bípedes, isso é apenas para inglês ver. Na velocidade excessiva e desconexa que ainda permitem que se apresente a maioria dos atuais animais de pista, ver alguma dissociação nos bípedes diagonais, é mero exercício de imaginação. Ver tríplice apoio então, a olho nu, fica mais difícil ainda, para não dizer impossível. Não usam a audição e não fazem referência aos 4 tempos da marcha. Não citam o compasso diferente que a marcha de tríplice apoio definido tem quando comparada com o trote ou com a marcha trotada. Praticamente só falam em comodidade, impulsão e equilíbrio. Parecem desconhecer que existem muitos animais de trote que são cômodos, tem impulsão e são equilibrados. De marcha trotada então existem aos montes com essas qualidades. Mas se esquecem que estão julgando M. Marchador e não Mangalarga ou cavalo de trote. Talvez conheçam muito pouco de outras raças, por isso não percebem que estão misturando as coisas. Como bem disse certa vez o criador Bruno Teixeira de Andrade “de coronel em coronel a raça vai pro beleleu”. Não sou contra militar. Também tive instrutor militar e muito bom por sinal. Mas não se deve transpor literalmente os conceitos e valores do universo eqüestre do trote para o universo eqüestre da marcha, sob pena de perdermos a raça. É o que parece estar acontecendo. Assistir uma exposição de Marchador hoje é quase a mesma coisa que assistir uma exposição do Mangalarga aproximadamente 35 anos atrás ou mais. O Marchador está perdendo sua identidade, tanto de conformação como principalmente de andamento. Nas pistas já não se escutam mais os quatro tempos de cada passada, não se enxerga dissociação e o tríplice apoio está rarefeito. Com a premiação deste tipo de andamento, marcha trotada travestida de marcha batida, estão mais de meio século atrás do Mangalarga. A maioria dos Mangalarga tem andamento mais cadenciado, mais amplo, mais impulsionado e mais cômodo que o Marchador promovido pela ENA de hoje. Também são mais enérgicos, mais alçados (sem excesso) e conseqüentemente mais brilhantes que o Marchador. Em termos de galope de três tempos então nem se fala, a superioridade é quase incomensurável. Por conta da equivocada orientação vigente de andamento ideal, muitos criadores novos ou menos escrupulosos estão recorrendo, cada vez mais, a cruzamentos ilegais com o Mangalarga. Além de saírem mais de meio século atrás, estão perdendo o que o Marchador tinha de superior na conformação, no temperamento, na firmeza para topografia acidentada e na maciez do andamento. O tipo de cavalo que fez o Marchador ser a maior raça do Brasil não é este que hoje está ganhando nas pistas. Estão trocando o certo pelo incerto.
    Os defensores da seleção atual dizem que a dissociação leva a momentos de lateralidade e que a lateralidade leva a um andamento desequilibrado. Isso é, no mínimo, discutível. Depende do que se quer. O andamento mais apoiado, mais seguro e, portanto, mais equilibrado, é o passo. E o passo é um andamento bem dissociado, conseqüentemente com momentos de lateralidade. E agora José? A marcha, seja ela batida ou picada, quando bem dissociada é um andamento próximo do passo, porém com a faculdade de se locomover mais rápido. E locomovendo-se mais rápido que o passo a duração dos momentos de lateralidade torna-se menor ainda. Essa faculdade é justamente uma habilidade superior que os marchadores tem em relação aos trotadores. É bom lembrar que os cavalos de trote, quando andam na baixa velocidade também andam sempre com dissociação nítida e, portanto com lateralidade em cada passada. E nem por isso são considerados animais desequilibrados. O problema da marcha com dissociação nítida não é o desequilíbrio como os iluminados instruídos instrutores da ENA e da EMA pensam. O problema do marchador é sempre, com algumas exceções, a maior dificuldade para tomar e manter o galope reunido a três tempos. Por desconhecimento ou por desvio de rumo, em vez de selecionarem o bom marchador tripedal com bom galope também, estão selecionando um arremedo de marcha trotada com galope ruim. Simplesmente isso. Este é, no meu entender, o cerne da questão e a raiz de toda a conturbada problemática atual.
        Falta à ENA e à EMA gente com mais conhecimento, com mais experiência, com visão mais ampla e com mais amor ao legítimo e tradicional andamento dissociado do Mangalarga Marchador. Não digo que os andamentos mais premiados atualmente não sejam bons, que não tenham qualidade e que não possam continuar. Não é isso e nem se pode pregar uma caça às bruxas. Seria quase inexeqüível. O que a ABCCMM não pode deixar é que alguns dos seus preconceituosos árbitros saiam por aí premiando só este tipo atual predominante de andamento com dissociação irrisória ou inexistente. Isso é no mínimo uma burrice mercadológica. Vejam o sucesso da associação do Pampa que, de acordo com a origem diversificada dos seus animais, soube abrigar com igual valor diversos andamentos, mas cada um na sua respectiva categoria, sem desmerecer nenhum. Sem preconceito, selecionamos os bons e eles existem em todas as modalidades de andamento, exceto na andadura.
        Esperamos que as pessoas recém eleitas para a nova diretoria da ABCCMM, cuja chapa tinha como lema Resgate & Tradição, faça jus ao nome de campanha. Que o prezado presidente faça uma gestão “a quatro tempos realmente sem fronteiras”.        
* O autor é ex-árbitro oficial da ABCCMM, professor no curso superior “Ciências Eqüinas”  da PUC-PR e titular do próprio picadeiro de treinamentos. Endereço eletrônico  sbeckequinos@yahoo.com.br